Sobre Latidos - Estrelando Petit

Pode parecer óbvio, mas o latido é um sinal de comunicação, natural e instintivo. Ter clareza disso é fundamental pois, antes de pensar em como resolver este ou aquele latido, é preciso entender o que ele está querendo comunicar com esta vocalização.

A vocalização está relacionada à emoção dos cães, é uma forma de expressão, assim como sua linguagem corporal.

Pode incomodar e atrapalhar, sim. Mas não por isso devemos pensar no extermínio sem antes pensar no significado.

Para estrelar este post trouxe a Petit, uma Yorkie que treinei que latia incessantemente, sem motivo aparente. Ela é um bom exemplo do porquê as punições aos latidos NÃO resolvem o problema.

Ela foi treinada anteriormente com base no spray de agua e barulhos de latinha, assim que ela emitisse os latidos. A punição surtiu efeito rápido, porém temporário. Ela voltou a latir e latia cada vez mais.

Além dela, tive outros casos que atendi com a mesma questão, os latidos, e com as mesmas tentativas frustradas, a punição não resolveu. Em um outro caso, o Thor (um beagle que contarei a história em um próximo post) era punido por latir por meio da coleira eletrônica e passou a destruir móveis e objetos da casa, ou seja, a punição até agravou o problema.

Mas porque isso?

Porque, como em toda situação aonde há a punição, não há sentido. Não há clareza. Se os latidos são sinais, faz muito mais sentido entender quais seriam estes sinais: Nervosismo? Insegurança? Excitação? Ansiedade? Tédio? Stress? Ou então, o mais famoso: para chamar atenção?

Punir não entende a emoção, pelo contrário, impede o entendimento. Gera mais frustração ao cão. Foi o caso da Petit.

Para falarmos deste caso, vamos entender o que motivava ela a latir, entendendo um pouco mais sua rotina:

Uma das principais medidas na hora de entender os latidos, é entender seu contexto: em quais situações late. Isso porque nos auxilia em premeditar e trabalhar na antecipação do comportamento. O que não dava para discriminar tanto no caso da Petit.

E agora?

Sua tutora dedicada buscava, cada vez mais, compreender e ajudar esta pequena. Fomos entendendo com as aulas que não se tratava só dos latidos, mas de seu alto nível de energia e sua rotina com poucos estímulos, até por conta das possibilidades restritas, devido à sua baixa socialização e pouca aceitação dos passeios.

Vamos falar dos pontos importantes que trabalhamos com a Petit:

Estimulação Mental + Enriquecimento Ambiental

Pode parecer que por ser uma Yorkshire ela não tinha um alto nível de energia. Puro engano. Essa pequenina era MUITO ativa e respondia muito ao treino. Tínhamos muitos obstáculos como o passeio, a socialização e a falta de interesse nas brincadeiras. Tentamos implementar, aos poucos, estas atividades de forma positiva na rotina.

O que mais nos auxiliou foram os comandos: ensinamos o treino de caixa com sua bolsa de transporte, ensinamos a usar os brinquedos como target (tocar no brinquedo que estava longe e voltar para buscar a recompensa), comandos diversos de obediência, principalmente treinos de auto controle, como Fica, Espera e não pegar os petiscos do chão antes da liberação. Ensinar coisas novas a ela era uma fonte de estimulação e prazer!

A alimentação deveria ser oferecida 100% em treino e em brinquedos comedouros

Troca de atenção = Proatividade

É muito comum os cães latirem para chamar nossa atenção ou ganhar algo. Nós sempre reagimos à este comportamento, não importa como. Seja olhando feio, encarando, falando “não”, conversando com o cachorro, chamando, etc. Em resumo, eles treinam muito bem seus humanos a responderem ao seu comando “latido”, não é?! Rsrsrsrs

Não importa quanto tempo ela passa latindo, Petit deveria ganhar a melhor atenção na fração de segundo que mantinha-se em silêncio. Tudo que ela mais queria: carinho, colo, atenção, deveria ser dada na hora do silencio. Paramos de REAGIR, para sermos PROATIVOS. Isso faz toda a diferença e, sem duvida, dos treinamentos é o mais difícil, pois sugere que ignoremos os cães quando o comportamento de latir para ganhar atenção vem. Afinal, foi algo que foi reforçado por nós em algum momento da vida deles. Lembre-se: antes, é preciso garantir que o cão esteja cansado, ou seja, satisfeito de estimulações para não confundirmos os motivos dos latidos.

A regra é: Pare de responder ao latido de atenção. Veja os sinais antecedentes ao latido e aja antes dele precisar latir.

Possessividade: uma vitória dos treinos anteriores

Como vitória com todas as trocas positivas construídas durante o treinamento, o desafio que mais temíamos, mas não menos importante, conseguiu ser realizado pela tutora sem muita dificuldade: fazer ela dormir em sua caminha, para não manter a possessividade com a cama dos tutores. Ela conseguiu fazer com que a Petit respeitasse quando fosse colocada na caminha dela, sem ficar latindo insistentemente para subir!

Ela diminuiu muitos os latidos, familiares perceberam a melhora de comportamento da Petit de longe e o que aumentou foi a conexão entre elas.

E aí: que tipo de resultado você quer construir com seu cão? Aquele que SÓ resolve de imediato o problema e depois piora o comportamento? Ou quer a vitória que vem com o entendimento, com a paciência e a dedicação e te entrega mais do que o resultado final, entrega conexão com seu cão?

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